segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Música mais música !!!!


Livros (Caetano Veloso)



Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objectos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

http://www.youtube.com/watch?v=7vV22LRNrpk

* Não iria comentar essa letra mas ela é tão boa que é impossível não comentar.
Comentário 1. Caetano, apesar de eu ter alguns problemas com ele, o acho um dos melhores compositores que a Musica Popular Brasileira tem. Lembro de algumas nesse mesmo nível como: Língua, Queixa, Um Índio, Haiti - que dividiu a composição com Gilberto Gil - entre tantas outras.
Comentário 2. Acho os primeiros versos um dos mais bonitos que já vi - Tropeçava nos astros Desastrada - magnífico.
Comentário 3. Me vejo muito nos versos Quase não tínhamos livros em casa e a Cidade não tinha livraria. Primeiro: Em minha casa só tinha o livro Capitães da Areia de Jorge Amado. Segundo: Camaçari não tinha e não tem uma livraria.
Comentário 4. Acho exatamente que (...) a frase, o conceito, o enredo e o verso É o que pode lançar Mundos no Mundo.
Enfim bela letra merecida de ser ouvida e lida, observada e analizada.
Fiquem a vontade.

Boa Música

DEUS ME PROTEJA (Chico César)

Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim

Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer


*Acabei de ver Chico César cantando essa música no Sr Brasil programa da Tv Cultura.
Achei muito boa a letra, Chico César é um grande artista e um excelente compositor, muito bom o jogo de palavras com a idéia que a música dá.
Se eu subesse como colocar o video do youltube aqqui no blog eu colocaria pra vcs ouvirem a musica...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pensamentos

Ando com o coração aos pulos, com a visão distante lá adiante no horizonte. Ando sonhando e tendo insônia noite após noite, dia após dia.

Vivo apegado à esperança e fazendo das veias e neurônios um órgão que me dê força na luta. Faço-me ao amanhecer jardineiro que lança à terra fértil sementes de uma nova vida.

Coloco minha existência a dizer o que corre em meu peito e a gritar que esse mundo esgotou-se.

Alimento-me do suor de meus companheiros, camaradas de causa e de sonhos. E se me decepciono por momentos com alguns deles, mais me fortaleço na minha caminhada por ver que depende de mim a mudança.

Sufoco-me muitas vezes com a fragilidade e a impotência dos Homens. Encanto-me muitas outras tantas vezes com a grandeza e a honra de muitos outros.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Bom e velho DRUMMOND...


Balada de amor através das idades


Carlos Drummond de Andrade

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena,
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.

Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria do meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava
você fez o sinal da cruz
e rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loira notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.